O Cavalo e a Estrela

O Cavalo e a Estrela

Esta história muito antiga

Contou-ma foi minha mãe:

Quem conta um conto acrescenta um ponto

E eu acrescento-o também.

 

Era uma vez um pastor

No abrigo de uma serra,

Chamada Serra da Estrela

Quase no cabo da terra.

 

No Inverno a neve branca

O chão da serra cobria

E naquela solidão

O pastor assim vivia.

 

As ovelhas em seu redor

Faziam uma roda mansa:

Eram mantas de ternura

Numa roda que não cansa.

 

Para as ovelhas guardar

- Que os lobos matam rebanhos!

O pastor tinha um cão

De meigos olhos castanhos.

 

Havia silêncio na serra,

Tudo na serra dormia,

Quando apareceu um cavalo

A correr na noite fria.

 

Caía o luar na serra

Tudo na serra luzia,

Quando apareceu o cavalo

A correr na serra fria.

 

Foi acordado o pastor,

Ladrou o seu cão fiel,

E ali parou o cavalo,

Castanho da cor do mel.

 

Caía o luar na serra

E o cavalo ali parado:

Não era um lobo feroz,

Não era um lobo esfaimado.

 

Caiu uma estrela ardente

Na sua cabeça tão fina:

Eram os olhos mais azuis

Como a água de uma mina.

 

Brilhava de mansidão

O seu olhar sem sossego

E à lembrança do pastor

Vem a água do Mondego.

 

Começa o filho a falar:

- Sou filho da Primavera

E eu vim anunciar

Que ela está na serra à espera.

 

Esta estrela, sobre a testa,

Queima meu corpo de mel,

Cega meus olhos azuis

Numa fogueira cruel.

 

Adeus pastor, meu amigo,

Fica com o teu cão, teu gato,

Já pode ssair do abrigo,

Eu já te dei o recado.

 

O pastor tinha uma flauta

Onde seu sonhar dormia

E tocou-a de madrugada

Com cristais de neve fria.

 

E o cavalo correu, voou,

Ganhou asas a arder:

O cavalo cor de mel

Era a manhã a nascer.

 

Esta história muito antiga

Contou-ma foi minha mãe:

Quem conta um conto acrescenta um ponto

E eu acrescento-o também.