A Pequena Praça

A Pequena Praça

A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça

Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente

Eu agarrava-me à praça porque tu amavas

A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas

Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas

Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer

E a vida toda deixava ali de ser a minha

Eu procurava sorrir como tu sorrias

Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco

E à mulher sem pernas que vendia violetas

Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti

Eu acendia velas em todos os altares

Das igrejas que ficam no canto desta praça

Pois mal abri os olhos e vi foi para ler

A vocação do eterno escrita no teu rosto

Eu convocava as ruas os lugares as gentes

Que foram as testemunhas do teu rosto

Para que eles te chamassem para que eles desfizessem

O tecido que a morte entrelaçava em ti