Décimas

Décimas

Coração, basta o sofrido,

Ponhamos termo ao cuidado,

Que um esprezo averiguado

Não é para repetido:

Basta o que havemos sentido,

Não demos mais ao tormento,

Que passa de sofrimento,

Dar por um desdém tirano

Toda a alma ao desengano,

Toda a vida ao sentimento.

 

Fujamos deste perigo,

Livremo-nos, coração,

Que não é bom galardão

O que parece castigo:

Eu convosco, e vós comigo

Melhor o mal passaremos:

Pois entre amantes extremos

Tão divididos ficamos,

Que se nós comunicamos

É só quando padecemos.

 

Aquele bronze animado,

Por quem deixais de assistir-me,

Ai! Que as finezas de firme

Troca em desdéns demudado:

Deixemos pois um cuidado,

Que serve só de homicida;

Porém se é força que a vida

Fique igualmente arriscada;

Antes que de desprezada,

Quero morrer esquecida.