Coração, basta o sofrido,
Ponhamos termo ao cuidado,
Que um esprezo averiguado
Não é para repetido:
Basta o que havemos sentido,
Não demos mais ao tormento,
Que passa de sofrimento,
Dar por um desdém tirano
Toda a alma ao desengano,
Toda a vida ao sentimento.
Fujamos deste perigo,
Livremo-nos, coração,
Que não é bom galardão
O que parece castigo:
Eu convosco, e vós comigo
Melhor o mal passaremos:
Pois entre amantes extremos
Tão divididos ficamos,
Que se nós comunicamos
É só quando padecemos.
Aquele bronze animado,
Por quem deixais de assistir-me,
Ai! Que as finezas de firme
Troca em desdéns demudado:
Deixemos pois um cuidado,
Que serve só de homicida;
Porém se é força que a vida
Fique igualmente arriscada;
Antes que de desprezada,
Quero morrer esquecida.