Entra o lusco-fusco pela porta dentro.
Os olhos indiferentes, sem procurarem
alvo fixo, perdem-se na intacta chávena de café.
Na incisão é quando os gestos se desfazem,
quando o silêncio vai ficando solitário,
num eterno dilema de metamorfose,
quando na regra o casulo cresce,
escondendo o sol, ou as árvores
os pássaros emudecem.
Desligado o interruptor, apagadas as cadeiras
onde a música se entornou,
regresso pela névoa de fim de tarde,
no lento movimento da sombra espessa.
Entro em casa, que se encontra coberta
pela toalha da obscuridade, e comigo
entra a melancolia.
Encho, então, um copo de luz, que se reflecte
no espelho. Da sombra tua sombra me sorri,
harmoniosa.