Espera

Espera

Tempo retalhado em frangalhos

cujas caleiras entupidas pelas chuvas,

dias e dias, gastam o cansaço,

à espera do vestir da Primavera,

branca espuma em seus cabelos,

fazendo-nos recordar o algodão

da nossa infância. Telhados enfeitados

com o vestir da vida e rebanhos

em gestos mansos contemplam

a beleza, pastoreando a solidão,

à espera da melancolia da tarde

e do génesis do dia. Enquanto

incendeiam o ritual da transformação

do ser , emmurmúrio ou em peso

obscuro, as nuvens desenham

imagens de sonho ou de mágoa,

ora libertas do perfume das

pétalas ora empurradas ao sabor

dos vendavais. Mas a beleza

do teu rosto despenteia a do arco-irís

que teima em juntar os pontos cardeais.

O reencontro entre o vale e a colina

põe no firmamento a clarividência

do sonho, onde tudo acontece,

no canto da memória.