Tempo retalhado em frangalhos
cujas caleiras entupidas pelas chuvas,
dias e dias, gastam o cansaço,
à espera do vestir da Primavera,
branca espuma em seus cabelos,
fazendo-nos recordar o algodão
da nossa infância. Telhados enfeitados
com o vestir da vida e rebanhos
em gestos mansos contemplam
a beleza, pastoreando a solidão,
à espera da melancolia da tarde
e do génesis do dia. Enquanto
incendeiam o ritual da transformação
do ser , emmurmúrio ou em peso
obscuro, as nuvens desenham
imagens de sonho ou de mágoa,
ora libertas do perfume das
pétalas ora empurradas ao sabor
dos vendavais. Mas a beleza
do teu rosto despenteia a do arco-irís
que teima em juntar os pontos cardeais.
O reencontro entre o vale e a colina
põe no firmamento a clarividência
do sonho, onde tudo acontece,
no canto da memória.