Atravesso para o outro lado.
O espírito flutua pra lá das portas
dos abismo, sem chave que abra
de modo que ninguém feche,
e feche de modo que ninguém abra.
Procuro no vácuo o clarão transparente
de uma porta aberta, por onde possa
espreitar as fronteiras do teu perfume,
mas só o mar vítreo me devolve a tua
áurea, empurrada pela suavidade do vento,
por entre as copas altas dos ciprestes, numa
música oceânica pacífica, que invade a alma
deitada na noite, sob um coreto sem músicos,
onde só os fantasmas vagueiam na sua dança
matemática, em busca do número infinito.
Quero regressar daquela areia movediça,
esperançada que o tempo me devolva a luz
inocente, enquanto os ciprestes cantam baixo,
gemendo, como cordas tensas de violinos
despojados lá ao longe dos acordes da vida
que o tempo faz breve,
diluído em alfa e ómega.