No seu formoso alazão,
Dom Dinis - o Trovador -
Vai através da amplidão
Em busca dum novo Amor.
Vai Dom Dinis galopando...
Lindos sonhos vê brilhar!
- No seu palácio, chorando,
Santa Isabel a rezar.
Vai Dom Dinis pela estrada
Sem mesmo os olhos volver,
E Santa Isabel, coitada,
Sempre a rezar e a gemer!
- De Monte Real a aldeia
Perdeu-se na escuridão,
Mas de El-Rei o peito alteia
O pulsar do coração...
Já do seu lindo castelo
Dom Dinis não vê as cores...
Que importa, se o sonho é belo
E a noite escura é de amores?!
Percorre um estreito carreiro,
Chega a um casal florido...
Lá, em doce cativeiro,
Dom Dinis fica retido...
Chorando, a triste Rainha,
Bondosa e cheia de graça,
Vê que a manhã se avizinha...
Receia algua desgraça!...
E o seu coração de Santa
Mandou com muito carinho,
Num gesto que nos encanta,
Alumiar o caminho.
Já El-Rei vinha de volta,
Remorsos no coração...
E a noite era sempre envolta
Na mais densa escuridão.
Os olhos fitos na estrada,
Dom Dinis vinha a cismar...
- Eis que a vê alumiada
Por um suave brilhar!
Recua El-Rei, assustado,
E ao fulgor dessa luzinha
Vê a sombra do Pecado
E a bondade da Rainha!
"Ai de mim! triste de mim!
- Geme El-Rei na sua dor -
Ai de mim, que cego vim,
Ai do triste pecador!..."
Como penhor do Passado
Duas aldeias, ao vento,
Evocam o seu passado
E o seu arrependimento.