Menina que foste

Menina que foste

Beleza suave

Frescura de fonte

Pura e alecre

Não perdeste o tempo

Que rodou veloz

Agora aos setenta

Vividos a sós

Perdes a frescura

Vais ficando velha

Nem que da beleza

Reste uma centelha

Onde esse donaire

Qual eternidade

Desafiando o tempo

Desafiando a idade

Deixaste que a vida

Impiedosa e fria

Te fosse sulcando

No seu dia-a-dia

Traiçoeiramente

Como quem afaga

As marcas e rugas

No corpo e na alma

Quando deste conta

Olhando p'ra trás

Sem deter o tempo

Que passou fugaz

E em brado surdo

Tu tentas dizer:

(não te convencendo

e sem convencer)

Não! Eu não sou velha!
Não sou tanto assim!

É que a mocidade

Inda mora em mim.

E o desalento

É que me tomou

E me converteu

No que agora sou

Sem ver que o tempo

Estava a passar

Sem viver a vida

Quase a vegetar

Mas em vão tu bradas

Num triste lamento

Essas vãs palavras

Levadas pelo vento

Porque não tiveste

Uma vida plena

Em que a juventude

Só te deixou pena

Agora aos setenta

Anos decorridos

Apenas passados

Mas não vividos

Tu não esmoreças

Toma novo alento

Faz por esquecer

Esse teu tormento

Que na vida há sempre

A compensação

Guarda a esperança

No teu coração!...