Sentada no alpendre do meu interior,
quedo-me meditativa, e me pergunto
que haverá por detrás desse enigmático
olhar. Tento recordar na mesa da memória
em que tempo o olhar deixou de se cruzar.
Ouvi contigo a música do silêncio,
dancei na bruma do luar, sonhei que repartia
a cadeira da solidão e o tecto vazio
a que o tempo deu razão.
Havia ainda a planície, os montes, o mar
que em beijos lânguidos, ou abraços longos,
desenhavam no horizonte a primavera que vivemos.
Mas um novo Outono há-de surgir por detrás das nuvens.
Debato-me, procurando um jardim florido,
onde as roseiras não tenham espinhos,
e as pétalas continuem intactas no seu caule.
Que a cadeira vazia tenha o odor da maresia,
e os nenúfares continuem a sua dança na superfície
lisa dos lagos, e com o fechar da tarde
não escondam o profundo da alma.
O sonho feito em fragmentos acorde,
dando lugar a nova madrugada.
E as janelas se abrem em cada Primavera.