I
Por certa estrada que eu tomei um dia
um caminhante que por mim passou
parando disse com sobranceria:
- Tu és daqui? - Eu respondi: - Não sou. -
Era já velho. Seu olhar fulgia.
Na mão um ceptro. Voz que me encantou...
Um régio manto o corpo lhe cobria
Sandálias gastas de quem muito andou...
- A que vens tu? me diz. - Não sei ainda...
- Quen te guiou? - Ansiedade infinda...
- Que pedes tu? - O que me queiras dar...
Fitou-me então e disse calmamente:
- Sou velho já e sinto-me doente.
Toma este ceptro e ocupa o meu lugar.
II
No mesmo instante (sopro de magia)
nuvem de sonho sobre mim baixou...
Da larga estrada pela qual seguia
a etérea nuvem logo me levou...
Fechei os olhos. Mas minh'alma via...
Ah! o que eu vi nunca ninguém sonhou...
Nem eu contá-lo, não, hoje podia
tão longe vai e eu tão morta estou...
Vôo supremo entre um cenário belo
que só findou às portas de um castelo
de esmalte e jaspe, mármore e pedraria...
Baixou a nuvem. Eu baixei com ela...
Abriu-se a porta. Estava escrito nela:
- Feudal Castelo de Alta Fantasia. -
III
Entrei. E logo em ondas de harmonia
sou envolvida... Ai! envolvida sou...
Harpas gemendo funda nostalgia...
Canto da Ausência que o Amor gerou...
Soberba e ampla, longa escadaria
ante meus olhos se me apresentou.
Mão invisívelmos meus passos guia...
Eu vou subindo... Ai, subindo eu vou...
Sou levezinha... Ai! o meu peso é leve...
Mas seus degraus eram de rosa e neve...
Que é dessa escada pela qual eu subi?
Ai! ó Castelo onde estou sozinha,
país dos Sonhos onde sou rainha
que me enganásteis... O que faço aqui?