O Choupo

O Choupo

Havia um choupo no vale

que não era como os mais,

não dava guarida breve

a rolinhas e pardais

nem baloiçava no vento

soltando doridos ais.

Era rijo e altaneiro,

de folhagem sussurrante

ao menor sopro da aragem

que descia aos arrozais:

 

Quem o via, logo via

que estava esperando alguém.

Só não sabia era quem...

 

E de repente, à tardinha

de uma clara Primavera,

apareciam as cegonhas

a rasgar o horizonte,

vindas de onde não diziam,

de terras de muito longe.

 

Duas delas, devagar,

procuravam de olhos mansos

o choupo do seu agrado,

que não era como os mais,

não dava guarida breve

a rolinhas e pardais

nem baloiçava no vento

soltando doridos ais.

 

E logo que lá do ar

o descobriam no vale,

nele desciam, cansadas,

de longas asas paradas,

coração quase a parar.

 

Tempos depois, a conversa

era calma e comovida:

 

- Voltámos, amigo choupo,

que bom estares à nossa espera!

 

- Demorou tanto a chegar

este ano a Primavera...


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