Ribeira Antiga

Ribeira Antiga

Nas ruas estreitas, pequenas, sombrias,

Exalando cheiros a detergente e sabão

Onde os dias são noites e as noites são dias

Tal a miséria, fome e solidão.

 

Mulheres trabalhando incessantemente

Nas varandas há farrapos a secar,

Se chove lá fora penetra docemente

A chuva lá dentro para tudo alagar.

 

Idosos, viúvas, a falar e a rir,

Homens que saem para passear,

Mendigos despertos parecem dormir

E dormem sonhando à luz do luar.

 

Ébrios cantando a cambalear,

Crianças descalças, rotas e nuas

Chorando de fome parecem cantar

E cantam chorando sentadas nas ruas.

 

E nas ruas estreitas, pequenas, sombrias,

Exalando cheiros a comida e sabão

Onde os dias são noites e as noites são dias

Continua a miséria, fome e solidão...