Soneto I

Soneto I

Amor, se uma mudança imaginada

É já com tal rigor minha homicida

Que será se passar de ser temida

A ser, como temida, averiguada?

 

Se só por ser de mim tão receada,

Com dura execução me tira a vida,

Que fará se chegar a ser sabida?

Que fará se passar de suspeitada?

 

Porém se já me mata, sendo incerta,

Somente imaginá-la e presumi-la,

Claro está (pois da vida o fio corta),

 

Que me fará depois, quando for certa:

- Ou tornar a viver, para senti-la,

Ou senti-la também depois de morta.