Soneto II

Soneto II

Que suspensão, que enleio, que cuidado

É este meu, tirano deus Cupido?

Pois tirando-me enfim todo o sentido

Me deixa o sentimento duplicado.

 

Absorta no rigor de um duro fado,

Tanto de meus sentidos me divido,

Que tenho só de vida o bem sentido

E tenho já de morte o mal logrado.

 

Enlevo-me no dano que me ofende,

Suspendo-me na causa de meu pranto

Mas meu mal (ai de mim) não se suspende.

 

Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto

Que para quem de ti não se defende

Basta menos rigor, não rigor tanto.