Soneto III

Soneto III

Vida que não acaba de acabar-se,

Chegando já de vós a despedir-se,

Ou deixa por sentida de sentir-se,

Ou pode de imortal acreditar-se.

 

Vida que já não chega a terminar-se,

Pois chega já de vós a dividir-se.

Ou procura vivendo consumir-se,

Ou pretende matando eternizar-se.

 

O certo é, Senhor, que não fenece,

Antes no que padece se reporta,

Por que não se limite o que padece.

 

Mas, viver entre lágrimas, que importa?

Se vida que entre ausências permanece

É só viva ao pesar, ao gosto morta?