Sonho

Ainda me lembro como se fosse hoje,

daquela criança que morava no interior

da minha casa, que pernoitava nos meus

sonhos e que por vezes gostava

de vir brincar comigom logo pela alva,

que me destapava a roupa, me pegava ao colo

e me levava nas crinas do vento, alto,

cada vez mais alto, para depois me largar

em sonoras gargalhadas que acordavam a manhã

e enchiam os olhos de gotas de orvalho.

Depois, tirava o lençol a uma nuvem,

para que um fiozinho luminoso viesse

dar-me os bons dias, através das telhas

do meu quarto, onde, então, algo de sublime acontecia,

quando me desfazia as tranças, que penteava

demoradamente, me lavava a cara, me punha um saco

de serapilheira (bordado por fios de lã) às costas

e me mandava sorridente para a vida.