Trágica Evocação

O Sol, a resvalar, lá vai distante,

Após ter alegrado sobre os prados

O triste fim da tarde agonizante,

E da Vendéa os vastos povoados.

 

Já terminada a sua rude lida,

Avemarias ouvem ressoar

Os camponeses, na pequena ermida,

E param, de mãos postas, a rezar...

 

A noite vem descendo sobre a estrada

E invadindo os campos em redor:

Na tristeza da hora adiantada

Reina um silêncio morno e opressor.

 

Muito além, numa curva do caminho,

Cobertos de alvos, flutuantes véus,

Uns vultos vão baixando de mansinho,

Lá da insondável amplidão dos Céus!

 

São fantasmas, duendes?... Que sei eu?!

Fluidas aparições eles parecem...

Uma nuvem toldou o olhar meu,

Tento gritar... meus lábios emmudecem...

 

Horror, supremo horror!... Decapitadas,

As sombras vão seguindo em passo lento...

Flutuam as cabeas empoadas,

Ao sopro leve e embalador do vento!...

 

- Rosário rubro e frio de rubis -

O sangue tomba em gotas tremulantes;

Bebe-as a terra e belas Flor's de Lis

Vejo irromper, heráldicas, brilhantes.

 

Um grupo adeja sobre a nua estrada;

Jesus, Jesus! - Que vejo?! - uma criança,

Rotas as débeis carnes, massacrada...

- A mãe sustém-na... é o Delfim de França!

 

Murmuram num lamento esta oração:

- "Que as bênçãos do Senhor, todo Bondade,

Nâo deixem de baixar sobre este chão,

Onde brotou, sincera, a Piedade!

 

E vós, servos fiéis, cuja existência

Em lutas decorreu, que a vossa grei

Premiada veja em sua descendência

A fé em Deus... a lealdade ao Rei!...

 

- Ao terminar a prece fervorosa

Sobem de novo e perdem-se no espaço...

Banha o luar com sua luz leitosa

Da Régia Flor o indelével traço...


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