Sophia de Mello Breyner Andresen

Friso Arcaico

Patas dos corcéis da tempestade Tão concisas tão duras e tão finas Puro rigor de espigas - arquitrave Medida amor e fúria se combinam

Em Nome

Em nome da tua ausência Construí com loucura uma grande casa branca E ao longo das paredes te chorei

Eras Bela

Eras bela como a pintura de Mantegna Onde cada coisa mostra a nítida atenção Do olhar soletrando a eternidade Eras bela como a pintura de Mantegna Decifrando a escrita da ressurreição

Eurydice

O teu rosto era mais antigo do que todos os navios No gesto branco das tuas mãos de pedra Ondas erguiam seu quebrar de pulso Em ti eu celebrei minha união com a terra

Morte

Que triângulo ou círculo poderá cercar-te Para que te detenhas demorada e minha Para que não desças toda pela escada

A Pequena Praça

A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente Eu agarrava-me à praça porque tu amavas A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas Eu procurava tornar-me tu porque tu...

A Casa

A casa que eu amei foi destroçada A morte caminha no sossego do jardim A vida sussurrada na folhagem Subitamente quebrou-se não é minha
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