Uma noite de Abril, noite de Primavera
A despontar rosada, acalentando a Vida,
Eu perdi-me a sonhar no jardim da Quimera
Onde habita o Amor em risonha guarida...
Eu perdi-me a sonhar e dolorosamente
Relembrei o passado e as visões de outrora,
Porque não há ninguém que estremecidamente
Não recorde, a sofrer, o sonho de uma hora!
As minhas ilusões no coração magoado
Foram todas morrendo a carpir de mansinho,
Como expira a cantar o cisne imaculado,
Como fenece, implume, o pobre passarinho!
Vi-as florescer em horas de alegria,
Quando dentro de mim um rouxinol cantava...
Era um canto bem doce o que a Esperança ouvia
E de o rememorar a Saudade chorava!...
Veio o sopro da brisa adormecer-me a alma
E dar-lhe, em seu afago, uma consolação.
No silêncio infinito, a noite linda e calma
Entornava o esplendir dis astros na amplidão.
Deslumbrada fiquei por essa luz divina
E, bem longe do mundo e da sua miséria,
Voltei a reviver meus sonhos de menina
Ao suave brilhar da vastidão sidéria...
Então, serenamente, a minh'alma doentia
Abandnou a terra e foi aos pés de Deus;
Depôs no seu regaço a lívida agonia
E recebeu, em troca, a santa paz dos Céus...