Lua: de morada dos mortos à fecundidade, de símbolo da loucura ao próprio deus, é incontestável contudo que na maior parte das culturas é o astro associado ao universo feminino (salvo raras excepções). De carácter prático e mágico para alguns, a Lua é talvez dos astros mais amados e ao mesmo tempo incompreendidos pelo espírito humano. As suas duas faces, quer a visível quer a até muito recentemente oculta, bem como ao mesmo tempo as muitas outras faces que cada uma das duas apresenta ao longo do tempo tornam-na objecto de sonho e devaneio da parte de poetas, artistas e até cientistas.

    É para mostrar as várias faces da Lua humana que se criou este site, neste caso a poética. Apesar de na maior parte do globo a arte da mulher já ver reconhecido o seu devido valor, o certo é que, ainda assim, os seres que lhe pertencem ao género correm mais o risco de caírem no esquecimento que os seus camaradas sóis. Quantas páginas e versos de incontável valor não se encontram perdidos, ocultos em nomes dos quais certamente nunca ouvimos falar nem ouviríamos sequer não fosse a existência de um solitário exemplar de um livro de versos de alguma mulher que, por o ser, não perdurou? Desde jovem que me acostumei a receber frequentemente livros relativamente antigos, entre os quais ocasionalmente de poesia. A maior parte dos livros que recebia eram escritos por mulheres das quais tenho noção que, se questionar acerca do seu nome, ninguém o conhecerá; e, ainda que admita que a fama ou o renome não seja o objectivo daqueles que se dedicam à poesia (a poesia é feita para bem do mundo, não do indivíduo, acredito eu), não deixa contudo de ter algo de indigno o facto de não lhes ser dado o valor merecido. Procurar fama e procurar reconhecimento são coisas diferentes.

    Que sirva este site para, a uso dos mais entusiastas pela poesia como eu, divulgar aqueles versos em algo mais que a sombra de um livro amarelado pela poeira dos tempos, que será o caso de muitos. Apesar de no entender de muitos poder estar a divulgar espólio com direitos de autor, mais não estou que a dar precisamente um direito primordial que devia caber a todos os autores: serem lidos.

    Os meus votos de boas andanças! Possam estes versos espelhar também, de algum modo, a Lua que somos e que a nós mesmo negamos.