Paula Tavares

V

Devia olhar o rei Mas foi o escravo que chegou Para me semear o corpo de erva rasteira   Devia sentar-me na cadeira ao lado do rei Mas foi no chão que deixei a marca do meu corpo   Penteei-me para o rei Mas foi ao escravo que dei as tranças do meu cabelo   O escravo era novo Tinha um...

IV

Dormias Enquanto cantava a rola O cuco e o bem-te-vi   Dormias Enquanto duas vacas Pariam no curral   Dormias Quando a hiena entrou no cercado Levou o cabrito pequeno E partiu a cabaça dos sacrifícios   Dormias Quando a água chegou à mulola grande   Dormias E já ia alto O canto...

III

Deixa a mão pousada na duna Enquanto dura a tempestade de areia   A sede colherá o mel do corpo Renasceremos tranquilos De cada morte dos corpos Eu em ti tu em mem O deserto à volta.

II

Pode ser que me encontres Se caminhares pelas dunas Sobre a ardência da areia Por entre as plantas rasteiras   Pode ser que me encontres Por detrás das dunas   Talvez me encontres Na décima curva do vento Molhada ainda do sangue das virgens do sacrifício Por entre a febre A...

I

Mantém a tua mão No rigor das dunas Andar no arame Não é próprio de desertos   Cinza sobre mim As pontas do vento E orienta-as a sul Pelo sol   Mantém a tua mão Perpendicular às dunas E encontra o equilíbrio No corredor do vento   A nossa conversa percorrerá oásis Os lábios a...