Mote e Glosa

Mote e Glosa

Como dá vida o que mata,

Como o que consome, alenta.

 

Já que morro, ingrata sorte,

Às mãos da tua porfia,

Deixa-me inquirir um dia

A causa da minha morte:

Se amor com impulso forte

Me rendeu, como me aparta

Do bem, que na alma retrata

Minha doce saudade,

Que em lágrimas persuade,

Como dá vida o que mata.

 

Nesta aflição importuna

Em que meu coração passa,

Tudo é rigor que trespassa,

Nada golpe que desuna:

Que infausta a minha fortuna

Um bem, que me representa,

Cruel da vista me ausenta,

E não sabe a minha dor

Definir em tal rigor

Como o que consome, alenta.